domingo, 24 de julho de 2011

Cozinheiras

Cozinhar está na moda e há para todos os gostos. São programas de culinária e concursos para escolher o melhor chef. São as americanas na food network, as inglesas na sic mulher e os nossos tugas em todos os canais a nos fazerem crer que cozinhar é fácil e barato. São os cozinheiros proclamados chefs e as cozinheiras elevadas a divas da cozinha. São livros de receitas que começam em blogs e são blogs que se multiplicam como cogumelos. São os espertalhões que aproveitam a onda e as mentes brilhantes que lucram com o queque do momento. Não dá milhões, mas por enquanto dá uns bons trocos na carteira.
Se as mulheres sempre dominaram as cozinhas dos lares, ironicamente foram os homens que começaram a ganhar fama e títulos, sem nenhuma se atrever a lhes fazer frente. Quando as mulheres chamaram a si o que lhes era de direito e começaram a ganhar algum destaque, veio ao de cima também a vil mesquinhez feminina e a típica inveja de quem não suporta ver outra mulher a chamar a si as atenções. Gerando-se mais do que uma guerra na cozinha, uma guerra de cozinheiras, com direito a facadas nas costas e muita água na fervura.
A propósito duma certa polémica com uma conhecida chef portuguesa, dei por mim a crer que isto só podia ter sido obra de uma mulher. Alguma criadora de blogs. Basta uma pesquisa para se perceber que 90% dos blogs de culinária são criados por mulheres, cada qual disposta a exibir as suas qualidades e habilidades na cozinha. Algumas que aproveitam a moda dos blogs e da onda biológica para procurarem alguma visibilidade via internet e quem sabe fora dela. Em pouco tempo, todas querem ser as Nigellas e as Miss Dahl portuguesas. Todas se acham capazes de fazer Pavlovas. Todas desejam ter as suas receitas publicadas em livro.  
A dita cozinheira, num país povoado de cozinheiros reconhecidos, onde as únicas que se destacavam já estão na idade da reforma, estava a fazer um trabalho interessante, explorando uma cozinha simples, acessível e saudável, aliada a uma imagem própria, levemente descuidada mas agradável. Começava a ganhar o seu espaço neste país onde os homens são reis, com livros editados e um programa na televisão, quando senão alguém resolve destrona-la dizendo que as suas receitas eram cópias. E assim, por tão pouco, se consegue manchar o nome de uma pessoa na praça pública.
Posto isto, acho pertinente questionar a razão de ser do plágio de uma receita. Percebe-se quando se trata da cópia de excertos de um livro, um artigo ou um texto, agora uma simples receita, mesmo que editada em livro, acho inverosímil!?
Como é que se pode chamar a si a autoria de uma receita sem ter a certeza que alguém neste planeta já a fez? Como se pode improvisar determinado prato sem correr o risco de se estar a copiar a receita de alguém? Quem foi que disse que se mudar três ingredientes não está a plagiar mas a criar uma receita nova!? E se me apetecer fazer determinado prato, terei que pedir autorização ao "chef" que o criou? E os milhares de pessoas que em suas casas se atrevem a cozinhar aquilo que viram num programa, estarão elas a plagiar também? É o cúmulo. Não sejam tão mesquinhos, não tarda começa-se a pagar direitos de autor por aquilo que queremos cozinhar.
Lendo um caso de plágio no Brasil entre dois restaurantes de cozinha portuguesa que apresentavam pratos iguais, o juiz decretou que os pratos eram clássicos mas não eram receitas exclusivas, ou seja, os pratos tradicionais não têm que mudar e não se podem atribuir direitos autorais sobre eles.
Eu vou mais longe, considero todo o tipo de alimentação um bem público, que não é propriedade individual de ninguém, todos os pratos são livres de aparecer em qualquer restaurante e casa deste país ou mesmo nas receitas de um chef ou de um anónimo. Se o que está em questão é a forma literal de cozinhar as receitas, também há pratos que funcionam tão bem que não se deve mudar nada. Se temos que mencionar o autor da receita quando a transcrevemos para um blog, livro ou revista? Acho que não, quem nos garante que essa pessoa é o real autor da receita ou se é daquela avó desconhecida que a fez anos e anos a fio. Podemos cita-lo apenas por bom senso. Agora façam-me um favor, deixem-se de protagonismos e não se queiram apoderar daquilo que é público.

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